Jornada das Estações... Transformando Mudanças e Perdas
- Zilda Moretti
- há 11 minutos
- 3 min de leitura

A vida, em sua essência mais profunda, é um ciclo interminável de transformações – um espelho constante da dança da natureza. Assim como o planeta se move ininterruptamente através das quatro estações, nossa alma também viaja por ciclos de nascimento, crescimento, declínio e renovação.
É nesta metáfora atemporal que a Psicologia Transpessoal nos convida a mergulhar, oferecendo uma bússola sensível para navegar pelas mudanças e perdas que inevitavelmente colorem nossa jornada.
Na visão da Psicologia Transpessoal as perdas e as mudanças não são meros eventos a serem superados; elas são catalisadores profundos para a expansão da consciência.
A dor não é um erro do sistema, mas sim o portal que nos força a olhar para dentro, para além da identidade limitada que construímos no "verão" de nossas vidas.
Quando confrontamos uma grande perda (seja a de um ente querido, um emprego, um relacionamento ou até mesmo um sonho), o ego frequentemente reage com resistência, medo e a sensação de fragmentação.
Mas, do ponto de vista transpessoal, a perda é, paradoxalmente, um ganho. É o convite para soltar as amarras do que é finito e conectar-se com a parte de nós que é infinita e imutável: a nossa essência espiritual ou Self.
Tomemos como exemplo o Outono que no ciclo das estações é um período de profunda introspecção, desapego, reflexão e colheita.
O Outono é visto como um convite da natureza para um movimento de retração e interiorização, preparando-nos para a quietude do Inverno.
A lição das folhas durante o Outono
Assim como as árvores deixam cair suas folhas para conservar energia e sobreviver ao Inverno, o Outono simboliza a necessidade de deixar ir o que não nos serve mais. Ele sinaliza o desapego e o encerramento de etapas. É o momento de praticar o desapego de hábitos, crenças, projetos ou relacionamentos que já cumpriram seu ciclo, abrindo espaço para o novo em nossas vidas que surgirá depois da época do Inverno.
O Inverno da Alma: Soltar e Integrar
Pense no Inverno agora!É a estação da contração, do recolhimento, onde a paisagem se desnuda e a vida parece suspensa. Em nossa jornada interior, o Inverno representa a fase da perda. É o momento onde precisamos aceitar o "não-ser", a ausência.
É crucial permitir-se viver esta fase sem julgamento. Na negação ou na repressão da dor, a "semente" da mudança não consegue se aprofundar na terra da alma. O trabalho sensível, aqui, é a entrega. Não se trata de passividade, mas de reconhecer que há forças maiores atuando no ciclo da vida e da morte (e do renascimento). É neste silêncio gélido que a sabedoria da alma começa a emergir.
A Transpessoal sugere que cada grande perda é uma espécie de retiro forçado. Ela nos afasta das distrações externas e nos coloca frente a frente com as questões fundamentais da existência: Quem sou eu à partir do que perdi? O que resta quando tudo se vai?
Da Primavera ao Verão: Florescimento e Novo Sentido
A beleza e a esperança inerentes a este ciclo residem na certeza da Primavera. O luto, quando vivenciado de forma integral e consciente, é o terreno que prepara o solo para o novo florescimento.
Na Primavera aqui representada como a força da transformação – é a energia da mudança começa a pulsar. O que foi perdido não é substituído, mas sim transcendido. O foco muda da falta para o legado, para as lições e para a nova perspectiva de vida que a experiência da perda trouxe. É o momento de encontrar o novo sentido, o novo propósito que nasceu da vulnerabilidade.
No Verão a força da Expansão se faz presente. A vida se manifesta novamente em sua plenitude. Neste estágio, a mudança e a perda se integram à narrativa da sua vida, não como uma cicatriz aberta, mas como uma testemunha da sua resiliência e profundidade espiritual. O "eu" agora é maior, mais compassivo e menos apegado ao que é transitório.
A Jornada das Estações nos ensina que a mudança e a perda são ritos de passagem necessários. Elas nos despem do superficial para nos revestir do essencial.
Ao abraçar a sabedoria do ciclo, transformamos a dor da perda no poder da re-conexão com a vastidão do nosso ser. E é neste espaço transpessoal que descobrimos que, no coração do Inverno, reside a promessa eterna da Primavera.





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